A fantasia das Palavras
sábado, 1 de outubro de 2016
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
A Morte
Acho que meu fascínio por esse
assunto iniciou-se com a morte de amados conhecidos, amadas partes de minha
vida que desapareceram levadas pelo interessante e desafiador humor do Destino:
Esse ser, essa criatura misteriosa e desconhecida, que define os caminhos de
nossas vidas e os finaliza quando bem entender.
E se nós pudéssemos decidir os
nossos caminhos? E se tirássemos o emprego do Destino? E se tomássemos as
rédeas do nosso futuro e fizéssemos com que ele provasse do mesmo humor irônico
e maldoso com o qual rege as nossas vidas?
Ás vezes falamos que não
conhecemos o futuro apenas pra nos auto-enganarmos, pra nos consolarmos, pois
sabemos o futuro e ele não é nada agradável, afinal, meu caro, o futuro
eminente e permanente é a morte, e só ela. O conhecemos, mas preferimos
ignorá-lo, pois viver na ilusão de que não conhecemos e não dominamos os nossos
caminhos, nos conforta muito mais do que aceitar a triste verdade: A Morte, o
fim de todos esses caminhos percorridos por nós.
Penso que quando chegarmos á uma
idade avançada finalmente aceitaremos o nosso futuro, ou talvez não... Talvez
ninguém aceite a morte, e nunca aceitará. Ela é desoladora demais para ser
compreendida.
Ás vezes acho que a vida não tem
significado, afinal ela facilmente se acaba, mas aí eu olho ao redor, e vejo
pessoas, pessoas como eu que esperam por sua morte, mas que no intervalo de
tempo entre o nascimento e o sepultamento, elas aproveitam o máximo, sentem o
máximo de sensações, vivem o máximo que puder. E esse é o significado da vida,
viver. Porque morrer é fácil, a dificuldade é viver.
Viver... O que seria viver? Segundo
o dicionário viver é ter vida ou existência; existir. Mas será que é isso
mesmo? Quer dizer que se eu existo automaticamente eu também vivo? Talvez essa
seja uma visão muito superficial de um assunto tão complexo. Talvez seja uma
solução, um significado simples demais para algo que pode até mesmo ser
considerado inominável.
Afinal existem pessoas que
sobrevivem e aquelas que realmente vivem. Mas como podemos julgar se alguém
vive ou não? Devemos usar a frívola análise de que se não respira não está
vivo? Ou devemos olhar mais profundamente? E se olhássemos, como julgaríamos a
vida? Qual seria o parâmetro para descobrir se você realmente vive? Isso se
existir tal coisa como um parâmetro....
Muitos dizem que aqueles que
vivem são os que deixam marcas pelo mundo, mas e se você não viveu fisicamente
o suficiente para fazer alguma marca? Isso significa que toda a sua vida foi em
vão? Que o fato de você viver não valeu nada? Talvez seja esse o significa de
“existir”... Quando seu corpo esteve ali, você de fato fisicamente existiu, mas
não viveu, pois sua existência não foi marcante o suficiente para ser considerada
como vida.
E o que é necessário para ter uma
vida marcante? Será que você precisa escrever um livro mundialmente conhecido?
Ou virar um músico mundialmente famoso? Enfim, será que você deve produzir algo
que fará um impacto mundial?
Mas nem todos são capazes de
fazer isso... Então quer dizer que os incapazes também não vivem ou não são
dignos do mesmo?
Quem sabe haja outros modos de
viver. Perpetuar-se poderia ser um deles, afinal, se você criar descendentes
seu nome irá seguir por várias e várias gerações. Mas isso seria o suficiente?
Afinal, pouquíssimos são aqueles que lembram seus antepassados.
Então, quais seriam os outros
modos? Criar laços com várias pessoas poderia ser uma opção, mas e quando essas
pessoas morressem, quem se lembraria de você? E será que elas realmente
lembrariam de você se sua morte viesse antes?
Criar laços não é uma opção 100%
garantida, assim como reproduzir também não. E agora? Teríamos quais outras
opções? Não deixar laços, não deixar frutos, será que isso finalmente é viver? Ou
essa é a essência do vazio ato de existir? Talvez essa seja a opção dos fracos,
daqueles que não têm coragem o suficiente de procurarem o verdadeiro “viver”.
Mas são eles mesmos fracos? Ou afinal são eles os certos? Pois se ninguém sabe
como viver, como poderíamos exigir aos outros que se esforçassem para procurar
por algo que talvez nem mesmo exista?
Será que o nosso eterno carrasco
Destino novamente usou sua ironia para conosco? Será que novamente quis fazer
com que achássemos que éramos donos de nossos caminhos, para no fim chegarmos
ao ponto que ele havia programado? Se nós não somos os controladores de nossa
existência, então o que somos? Marionetes? Marionetes nas mãos do Mestre
Destino?
E se cortássemos nossas cordas e
nos rebelássemos contra o Mestre? Mas o que garante que essa “revolta” não tenha
sido orquestrada por esse mestre que comanda á tudo e á todos? Será então que
não vivemos? Apenas existimos baseados na vontade do Destino? Mas há uma coisa
que ele não pode orquestrar coisa que ele não pode mudar, pois essa coisa é de
responsabilidade de uma autoridade de hierarquia mais alta que a dele: A Morte.
Juliana CMC
"Morte": Um prêmio não desejado
“Não tenho medo de morrer, tenho medo sim é de
deixar de viver.”
-François
Mitterant
Sabe qual a pior coisa que um ser
humano pode fazer? Morrer.
Morrer é o ato mais egoísta
existente. O fim da vida não é um problema, mas se torna um quando o ser morre,
mas sua vida, e por vida eu quero dizer suas memórias, continuam a existir.
Existem dois tipos de morte. A
morte física, que é quando seu coração não bombeia mais sangue, quando seu
cérebro não tem mais nenhuma atividade e o seu iminente fim é abaixo da terra;
E existe a morte em vida, quando seu coração bate e o seu cérebro age, mas pra
você, isso não faz nenhuma diferença. Essa é a pior morte, quando mesmo em pé,
mesmo respirando, você se sente como se estivesse morto, e o pior, as pessoas
se comportam como se você de fato tivesse morrido, como se você não mais neste
mundo existisse.
Agora, voltando ao ato egoísta
chamado morte, e agora me refiro á morte física... Queria dizer que se você
puder fazer uma escolha, não morra. Sério. Tente atrasar isso além do
necessário. Já passou por sua cabeça o que aconteceria com as pessoas que te
têm em seus corações e em suas vidas quando você morresse? Já pensou como elas
se sentiriam? Como seria doloroso olhar para a cadeira que você sempre se
sentava e não mais te encontrar lá? Já pensou o que passa na mente daqueles que
não te têm mais?
É como
se eles morressem junto com você... É como se a vida deles perdesse a cor e,
com o tempo, eles perdessem os motivos de existir, já que você também não mais
existia. Isso tudo pela simples e egoísta razão de você não estar mais lá.
Morrer
deveria ser uma escolha. Ou você quer morrer ou não. Não, melhor! Morrer
deveria ser dado á aqueles que merecem, deveria ser como um prêmio dado pra
aqueles que não fizeram bom uso de um prêmio recebido anteriormente: A vida. Se
você não souber apreciar esse primeiro prêmio... Morra! Assim desocupa o espaço
daqueles que merecem fazê-lo.
Aqueles que não têm ninguém,
aqueles que não fazem diferença nenhuma na vida de absolutamente ninguém,
aqueles com a existência nula... A perda destes não causa sofrimento á ninguém,
não há dor direcionada á ninguém, então que morram esses!
Deixe que aqueles que são amados
vivam, e que morram os infelizes! Morram
os solitários, morram os isolados, morram os que não são amados, morram todos
esses, para que os que são amados por nós voltem...
É só um desejo, mas bem que
poderia se tornar real...
Juliana CMC
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
E viva ao amor...
O dia de hoje estava claro. O sol não sentia nenhuma
timidez, por isso decidiu parar no meio do céu em todo o seu esplendor, sem
deixar com que nenhuma nuvem se aproximasse para não correr o risco de ser
tampado. Os passarinhos estavam animados, pulando de um lado para o outro nas
árvores enquanto lançavam por suas pequenas gargantas os gritos esganiçados ou
cantos naturalmente afinados. A grama brilhava, restavam-lhe, ainda pequenas
gotículas da chuva que molhou todo o parque ontem á noite.
Sentei
em um banco na lateral do parque e olhei para o relógio em meu pulso. 09h15min da manhã. Convocaram-me para um
trabalho, mas eu havia chegado adiantado. O trabalho estava marcado para 09h34min.
Reparei
na jovem que estava sentada logo á minha frente. Estávamos tão próximos, que eu
quase poderia tocá-la. Lia um livro um tanto quanto grosso. Tinha os cabelos
negros e curtos, e os olhos puxados. Pele clara e lisa como porcelana. Era uma
asiática.
-Marcos!
– Ela exclamou, pulando do banco e voando nos braços de um jovem loiro. Ele a
abraçou e depois ambos sentaram-se no banco. Namorados?
-Como
vai, meu querido amigo? – Ela perguntou, colocando o livro dentro de sua bolsa,
e deixando-a de lado.
Não,
eles eram amigos. Mas os olhares que ambos lançavam entre si não condizia com o
verdadeiro relacionamento deles.
-Eu vou
ótimo, linda. – Ele parecia estar realmente bem, nada doente. Então o que
seria?
Ela
sorriu. – E o que aconteceu para você me chamar tão cedo?
Ele
virou de frente, agora os dois estavam sentados lado á lado. Marcos estralava
seus dedos nervosamente. Podia apostar que um anúncio importante estava por
vir. Ele virou novamente para a moça.
-Você
sabe quanto tempo somos amigos, certo?
-Sim.
12 anos. – Ela disse como se a data fosse lembrada constantemente entre eles.
-Certo.
Então... Você acompanhou todo o meu crescimento como homem. Você me viu virar o
que sou agora. Todos os meus antigos amigos acabaram desaparecendo da minha
vida, mas você não, você continuou comigo. Você estava comigo quando eu fugi de
casa, e prontamente me fez voltar e conversar com meus pais para resolver tudo.
Você estava comigo quando minha mãe morreu de câncer. Você estava comigo quando
passei no vestibular de Medicina. Você esteve comigo em absolutamente todos os
momentos importantes da minha vida. E sabe, a vida é tão curta, devemos
aproveitar o tempo que temos. Afinal, eu poderia morrer hoje mesmo. – Sorri de
lado quando ele disse isso. – Então, eu devo fazer algo, porque é melhor
ariscar do que perder essa chance.
A moça
estava quase chorando com tantas palavras bonitas, mas pode se segurar apenas
para murmurar. – O que?
Ele
levantou do banco e parou de frente á ela, tirou uma caixinha de seu bolso e se
ajoelhou. Ela arfou.
-Isabella
Akimoto, eu á amo de todo o meu coração. Você quer casar comigo? – Ele abriu a
caixinha. E o brilho da pedra do anel pôde ser visto de onde eu estava.
-Oh
Marcos... – A voz de Isabella estava embargada pela emoção. – Eu também o amo
demais. Isso foi uma surpresa tão grande. E sim, eu aceito me casar com você.
Ele
sorriu e colocou o anel no dedo dela. Olhei para meu pulso 09h26min. Um movimento rápido fez com que eu olhasse novamente para
eles. Um homem de capuz passou correndo pelo banco e pegou a bolsa de Isabella.
Marcos levantou sem hesitar e saiu correndo atrás dele. Olha o que temos aqui:
Um herói.
Isabella,
recém recuperada do choque, saiu correndo atrás também. Levantei do banco e
andei calmamente atrás dos três.
-Eiii.
Volte aqui! – Ouvi Marcos gritar.
-Pára
aí, almofadinha! – O ladrão gritou de volta.
-Não! –
E Marcos continuou á correr. O ladrão enfiou apressadamente a mão na cintura de
sua calça e tirou uma pistola dali. Hã hã Marcos, as coisas não vão ficar nada
boas.
Já era
tarde para o garoto fazer algo. Ele já estava no chão, escutando o eco do som
da bala em seus ouvidos. Isabella finalmente o alcançou e se jogou ajoelhada ao
lado dele. O ladrão, por sua vez, continuou correndo, parecendo ser o mais
desesperado deles. Aparentava não ter tido a intenção de atirar fatalmente,
queria que fosse no braço ou na perna, mas sua mira passou longe de ambos.
-Marcos!
– Isabella gritou entre lágrimas. – Por favor, não vá!
A bala
havia sido no meio do peito e sangue fluía pelo buraco, enchendo a grama de
gotículas vermelhas, fazendo com que as transparentes desaparecessem. Da água
ao sangue.
-Calma,
meu amor. – Marcos disse quase imperceptivelmente. Sua voz estava fraca, e
falar exigia demais dele. – Eu vou morrer tranqüilo tendo a certeza que você me
ama.
Por fim
seus olhos fecharam. E o sofrimento terminou. Pelo menos terminou para Marcos,
para Isabella tinha apenas começado. Em relação á isso eu não poderia fazer
nada.
Coloquei
a mão no bolso do meu casaco e abri o caderninho. Uma longa lista de nomes
seguia por todo ele. Aqueles eram apenas os do dia. A lista da semana era bem
maior. Olhei em meu relógio pela última vez e confirmei que sempre estivera
certo. Marquei na frente do nome de Marcos. Horário
de morte: 09h34min.
O seu espírito
levantou de seu corpo e olhou para ele mesmo, com confusão em seu olhar. Tentou
chamar a atenção de Isabella de todas as maneiras possíveis, mas para ela, ele
não existia mais. Estava na hora de eu me aproximar.
-Ela
não pode te ver Marcos. Ela e todo o resto de pessoas neste parque não podem
nos ver. – Disse parando ao seu lado. Ele olhou surpreso pra mim.
-Porque
ninguém consegue nos ver? E quem é você? – Ele perguntou sem parar de olhar
para seu próprio corpo estendido no chão.
Estendi
a mão para ele. – Prazer eu sou A Morte. Vamos rápido, sua mãe o aguarda.
Juliana CMC
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
Um dia de trabalho
Mais um conto para vocês. Esse um pouco maior do que o último. E de abordagem diferente. Espero que gostem.
Prazer. Chamo-me Marie, tenho 27 anos, trabalho para o FBI e sou uma psicopata.
Prazer. Chamo-me Marie, tenho 27 anos, trabalho para o FBI e sou uma psicopata.
Ei, não se assuste, não é como se eu
fosse te matar através de uma folha de papel. Na verdade eu não te mataria de
modo algum, á não ser que você fosse um criminoso federal e eu não conseguisse
prende-lo. De qualquer modo, eu não lhe mataria.
O problema das pessoas é que elas
sempre acham que um psicopata é mau. Mas como poderíamos ser maus, se nem temos
sentimentos? Vai ver é por isso que não gostam de nós, porque não temos
necessidade de esconder sentimentos, enquanto vocês “normais”, precisam á todo
momento conviver com o que sentem.
-Senhorita Van Der Bor, o Doutor
Hanks lhe espera.
Acenei para a secretária/
recepcionista, levantei-me de meu lugar e fui para a sala do “misterioso”
terapeuta.
-Bom dia, senhorita Marie. – Ele
levantou-se e sorriu. Era um senhor com mais de cinqüenta anos, ralos cabelos
grisalhos, um terno alinhado e um sorriso açucarado.
-Bom dia, Doutor. – Fechei a porta
atrás de mim, e a tranquei. Conseguindo fazer sem que o doutor percebesse.
-Como se sente? – Ele se sentou.
Pergunta interessante. Como eu me
sinto? A verdadeira pergunta é se eu sinto algo? E a resposta é não, não sinto
nada. Mas...
-Me sinto bem. – Não queria levantar
aquela questão naquele momento, por isso fiz o mais fácil. Menti.
Eu me encostei no óbvio divã, mas
sem me deitar. Seria patético demais e poderia me atrasar em alguma ação de
surpresa.
-Corajoso o bastante para fazer as
perguntas? – Arquei uma sobrancelha.
-Não tenho medo de você, Marie. –
Ele disse querendo passar confiança.
Pois ali estava seu erro, deveria
ter sentido o medo antes, assim não seria pego de surpresa.
-Então, comece á fazê-las.
-Quando você percebeu que era uma...
– Ele próprio se interrompeu. Sorri maliciosamente.
-Psicopata, doutor. Eu sou uma
psicopata. – Eu o completei e o acusei: - Surpreende-me o fato de o senhor, um
profissional, se envergonhar de me chamar pelo o que sou.
-Eu iria completar a minha pergunta.
– Ele disse mostrando ligeira irritação. – Se a senhorita tivesse esperado um
pouco.
Dei de ombros. – Sabia que essa
coisa de ser “senhorita” é até um pouco interessante?
Ele não deu muito atenção. Erro após
erro.
-É interessante porque estou com 27
anos e nunca tive um relacionamento sério. Acho que descobrir que a mulher com
quem você sai é uma agente do FBI e psicopata não ajuda muito em construir um
namoro.
-Estranho. Já que você é bem bonita.
– Reparei que dessa vez ele não disse o habitual “senhorita”. Intimidade
forçada, doutor. Mais um erro.
-Obrigada. – As pessoas sempre me
diziam o quão bonita eu sou, rosto delicado, pele dourada, longos cabelos
castanhos e olhos esverdeados. O problema era quando eles descobriam sobre a
minha saúde mental. A partir daquele momento, a antes mulher bonita, virava uma
louca fora do hospício. – Mas por mais estranho que pareça, nem tudo é beleza,
doutor. – Fui sarcástica. – Termine sua pergunta.
Ele acenou.
-Quando você percebeu que era uma
psicopata? – Ele finalmente pronunciou o nome certo. Depois cruzou as pernas e
pegou o seu bloquinho de papel.
-Penso que foi no momento em que meu
colega no jardim de infância caiu dos brinquedos do parquinho e quebrou o
pescoço.
Ele demonstrou surpresa, mas logo a
escondeu.
-O que você fez perante isso?
-Desci do escorregador, circulei seu
corpo sem vida e fui atrás da professora. Chegando lá, disse á ela que o garoto
havia morrido. Ela se desesperou e foi conferir com seus próprios olhos. Comportei-me
normalmente, olhando os paramédicos pegarem o corpo do garoto, depois saí do
parquinho e voltei para dentro da sala de aula, queria ficar ali, pois não
tinha nada mesmo para fazer, mas a escola foi fechada por 2 dias, e eu acabei
ficando em casa.
-E como as pessoas reagiram á esse
seu curioso comportamento?
-As pessoas pensavam que eu estava
em estado de choque, mas o estado de choque nunca passou, de fato continua até
hoje.
Ele escreveu algo em seu bloco de
papel. Aposto que eram apenas rabiscos.
-Você visitou outros terapeutas,
durante sua vida? – Ele perguntou ainda olhando para os rabiscos.
-Bem, isso é óbvio, já que eu sou
uma psicopata diagnosticada. Vi caras como você durante toda a minha vida. – E
isso não era nem um pouco mentira. Já fui em tantos psicólogos, que já poderia
atender outras pessoas. O difícil seria encontrar alguém que confiasse em mim
para diagnosticá-lo.
-Interessante. Mais uma pergunta:
Como foi sua adolescência?
-Meus pais optaram por eu estudar em
casa, então não foi grande coisa.
-E como você começou a trabalhar no
FBI?
-Foi fácil conseguir um emprego se
uma das exigências era de eu ser a pessoa mais imparcial em julgamentos. Já que
não posso me emocionar, nem se eu vê-lo morrendo aqui, agora na minha frente,
eu acabei conseguindo o emprego.– Disse de brincadeira, mas o meu tom pareceu
não ter sido, porque ele me lançou um olhar assustado. – Demos um jeito, e eu
burlei o teste psicológico. E eu também sou boa em atirar. É meu dom. Isso tudo
facilitou na questão da construção de minha carreira como agente.
-Está em algum trabalho por agora?
-De fato,
estou.
-Gostaria de
falar sobre ele, ou é confidencial?
-Não se
preocupe, de qualquer modo você irá saber. – Joguei a isca, e ele pareceu mordê-la,
mas depois á soltou. O ser humano é tão arrogante, ele de certo estava pensando
que ninguém teria conseguido rastreá-lo, por isso estava tão tranqüilo. Pois
devia preocupar-se mais, já que eu já estava aqui pronta para trabalhar.
-Então.
Houve um cara texano que esquartejou sua mulher, e que estuprou todas as 4 filhas
que havia com ela, além de um menino de 10 anos que também era seu filho. Logo
depois de tudo isso, matou todos e os enterrou em linha reta, ligando a sua
casa á uma encruzilhada, tudo isso com os corpos de seus familiares. Era algum
tipo de ritual satânico, que aparentemente não funcionou. Depois fugiu e agora
estamos em sua cola, quase conseguindo encontrá-lo. – Louis Hanks engoliu em
seco. – E aí Louis, como você conseguiu perder o sotaque sulista tão rápido e
ainda um diploma de psicologia?
A última
pergunta foi o que o fez finalmente movimentar-se. Ele colocou a mão na cintura
da calça.
-Tarde
demais, assassino! – Eu disse, já com a minha arma apontando para a cabeça
dele. Tinha ido com uma camiseta ligeiramente folgada para não mostrar o que eu
escondia em minha cintura.
Ele continuou
com a mão ali.
-Abaixe a mão,
senão eu atiro! – Gritei de novo. Idiota arrogante. Errou aceitando atender um
agente do FBI, errou em se mostrar novato, errou em matar toda a sua família. A
mãe dele errou por tê-lo feito nascer.
-Vamos ver
se você é mesmo uma psicopata. – Movimentou-se, tentando puxar a arma. Mas eu
agi mais rápida e atirei em sua mão.
-Sou uma
psicopata diagnosticada, você é apenas um cara idiota que estragou a sua vida e
de seis pessoas.
Ele se
ajoelhou e inclinou-se sobre sua mão. Sangue escorria enquanto ele
choramingava. Olhei para algo ao lado dele que chamou a minha atenção. Tinha-o
feito perder um dedo e foi bem o do meio.
-Sua
piranha! – Gritou, lançando um olhar cheio de ódio em minha direção.
-Grande
reviravolta, não? – Disse ignorando seu xingamento e me aproximando dele. –
Você achando que tinha se safado, e que estava apenas atendendo uma louca hoje.
– Puxei a manga de minha blusa para minhas mãos e peguei seu dedo do chão.
Estendi á ele. –Acho que isso é seu.
Ele pegou o
dedo com a outra mão e começou a choramingar novamente.
-O que foi,
amigo? Está doendo? Imagina a dor de sua mulher quando não perdeu apenas um
dedo... – Abaixei meu rosto bem próximo do seu envelhecido. – Mas sim todas as
partes, que foram separadas.
Ele não
disse nada, apenas cuspiu em minha cara. Limpei o rosto com a manga da blusa e
apontei a arma para sua outra mão. Mais um tiro, menos um dedo.
Levantei de minha posição ajoelhada
e peguei o celular. Ignorei os choros altos e gritos ocos de Louis. Já havia
algum tempo que a recepcionista estava tentando entrar no cômodo, de certo já
havia ligado para a polícia. Mas a minha hierarquia era bem mais alta que a da
desses oficiais de interior, então nem me preocupei.
Disquei o número e ouvi apenas um
toque.
-Agente Snider.
-Snider, pode entrar. Já estou com
ele... Abatido. – Loius continuava a gritar.
-O que você fez com ele, Marie?
Porque tantos gritos? – Snider perguntou normalmente, como se eu fizesse aquele
tipo de coisa á todo momento. Ele não estava exatamente errado.
-Nada demais, ele que quis atirar em
mim primeiro. Venha e leve-o.
Desliguei o telefone e olhei para
Louis Hanks que havia se calado. Ele desmaiou e finalmente ficou quieto. Para
alguém envolvido em satanismo e assassinato, tinha o psicológico muito fraco.
Ainda bem que eu nem tinha algo desse tipo.
Dei-lhe as costas e destranquei a
porta. A secretária entrou correndo, enquanto eu saia. Mais um dia de trabalho,
menos um monstro solto no mundo. Mas será que é certo um monstro ser pego por
outro monstro?
Juliana
CMC.
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
Introdução
Olá leitores. Esse é meu post de introdução e vim aqui apenas apresentar-me á vocês. Meu nome é Juliana, tenho 16 anos e se quiserem saber algo mais, vão em meu perfil. Fiz esse blog para colocar meus textos e contos, espero que aqueles que os lerem gostem. Aí abaixo já segue um texto meu. Aproveitem
Abraço.
Ser ou não ser?
Loucura. Havia sido diagnosticada como uma pessoa
com distúrbios mentais. Mundialmente conhecido como loucura.
Olhei para o remédio tarja preta que estava em
minhas mãos. Ficara sentada no sofá, naquela mesma posição, já fazia muito tempo,
sempre olhando para o frasco. Deveria tomar seu conteúdo? E se tomasse,
realmente ajudaria?
Senti minhas pálpebras pesadas. Estava cansada.
Deitei no sofá e repousei a cabeça em uma macia almofada. Decidiria a questão
do remédio logo após acordar.
Suaves gargalhadas fizeram com que eu abrisse os
olhos novamente. Senti fracas cutucadas em meu braço. Olhei para o lado e
analisei o rosto de uma garotinha loira de uns 10 anos.
-Quem é você? – Perguntei, ainda meio sonolenta.
-Não se lembra de mim, Emmy? Eu sou você. – Ela
anunciou, passando a mão na lateral do meu rosto.
Alarguei os olhos e sentei no sofá em um pulo. É
verdade, a garotinha era eu. Mas isso há muito tempo atrás, há mais de 20 anos
na verdade.
-O que faz aqui? – Perguntei normalmente. Pois por
mais que parecesse estranho agora, não parecia antes. Pelo menos não naquela
hora.
-Você me chamou. – Ela se sentou do meu lado. E
ficou mexendo na barra de seu vestido, como eu fazia.
-Eu? Não me lembro de ter te chamado.
-Claro que chamou. – Ela me olhou como se eu
estivesse louca. – Foi um grito desesperado. Me deu até medo. Parecia que você
precisava de ajuda.
-Ajuda... – Repeti baixinho. – Como você pode me
ajudar?
-Não sei. Talvez eu possa pedir por reforços.
-Reforços?
-Sim. – Ela disse impaciente. – Feche os olhos e
espere um pouco.
Fiz o que ela disse.
-Emily. – A voz familiar fez com que eu abrisse meus
olhos novamente. A garotinha delicada havia sumido, o lugar dela foi tomado por
uma adolescente vestida de preto, e com a cara fechada.
-Você também sou eu? – Perguntei, olhando para os
olhos azuis da garota. O cabelo loiro havia sido tingido de preto. Desci meu
olhar para seus braços, seus pulsos estavam todos marcados, arranhados,
feridos.
-Sim. Feliz em me ver? – Ela sorriu sarcasticamente.
-Acho que sim. – Respondi confusa, ainda olhando
para os machucados – Porque você fez isso?
Ela olhou para os próprios pulsos.
-Não fui eu que fiz. Foi você. – Apontou para mim.
-Porque eu fiz isso?
-Seu pai, a pessoa que você mais amava no mundo, se
matou. Na sua frente. – A garota disse friamente.
-Porque ele fez isso?
-Ele não sabia que você estava vendo. Ele descobriu
que sua mãe o traia, e acabou se matando em um ato de covardia e desespero. –
Ela ergueu os pulsos em frente ao meu rosto. – Agora deve estar se sentindo
culpado pelo o que fez. Olha o que ele fez você fazer. Você se machucou. Você
sofreu, e tudo por culpa dele.
Meu nariz começou a arder, e uma lágrima desceu por
meu rosto. Eu me lembrava disso.
-Você vai me ajudar? – Perguntei secando a lágrima
com o dedo.
Ela olhou para baixo. – Não posso. Estou perdida
demais para ajudar qualquer um. Feche os olhos. Talvez alguém melhor venha.
Fechei novamente os olhos e esperei até ser chamada.
Passaram-se alguns minutos e ninguém me chamou. Finalmente decidi por abri-los.
Uma mulher jovem que devia ter uns 20 e poucos anos,
estava sentada no mesmo lugar da adolescente. Ela usava um terno e lia um livro
grosso. Seu cabelo agora estava loiro novamente.
-Porque não me chamou? – Perguntei ofendida.
-Quem precisa de minha ajuda é você. – Ela declarou
desdenhosamente.
-Você também sou eu?
Ela fechou o livro e lançou o olhar frio para mim.
-Está explicito que sim.
Tentei olhar para seus pulsos, mas a manga de seu
paletó não deixou.
-Quer conferir se as marcas ainda estão aqui? – Ela
levantou a manga. – Alguns cortes foram tão profundos, que deixaram cicatrizes
permanentes.
Olhei para as marcas. Agora estavam bem mais claras
que antes, mas mesmo assim ainda estavam ali.
-Você parou de fazer isso?
Ela olhou para mim novamente com um ar de desdém. –
Claro que sim. Isso não ajudava em nada. Percebi que guardar as coisas para mim
resolveria melhor do que pegar uma gilete e brincar de barbeiro em meu pulso.
-Que bom, então.
-Na verdade não. Guardar machuca mais do que isso. –
Vi algo no fundo de seu olhar. Era emoção, parecia tristeza.
-Sinto muito.
-Não sinta. Você que fez isso.
-Eu? – Perguntei surpresa.
-Você que guardou tudo. Você que se cortou, que se
fechou, que se quebrou. Agora está pagando por isso.
Senti-me mal pelo o que ela disse.
-Você vai me ajudar? – Tinha que ser ela. A moça
parecia ser a mais segura, deveria saber como me ajudar.
-Não tenho tempo para isso. Vamos esperar pela
próxima, talvez ela possa finalmente te ajudar. – Ela olhou sugestivamente para
mim. – Pensei que já tinha entendido que essa é a deixa para fechar os olhos.
Os fechei e esperei.
-Emily. – Uma voz tremida me chamou, abri os olhos e
me vi sentada ao meu lado.
Olhei para seu corpo e para o meu. Estávamos com as
mesmas roupas. Seu cabelo estava despenteado, e seu olhar tinha um brilho
estranho, assustador.
-Você quer minha ajuda? – Ela perguntou, passando a
mão em seus cabelos.
-Você pode me ajudar?
-Você pode se
ajudar? – Ela soltou o cabelo e segurou minhas mãos.
-Acho que não. É por isso que você está aqui, não é?
Para me ajudar, pois eu não consigo fazer sozinha.
-Tem certeza que não consegue sozinha? – Ela soltou
uma mão minha, e colocou a sua no bolso da calça de moletom que usava. – Pense,
Emily, todas as pessoas que tiveram aqui são você. Eu sou você.
Ela tirou do bolso o frasco de remédio e o estendeu
para mim.
-Aqui, minha querida, se ajude.
Peguei o frasco com as mãos tremulas.
-Agora feche os olhos.
Fechei-os mais uma vez, e um tempo depois os abri
novamente. Encontrava-me deitada no sofá, com o frasco em minha mão.
Se ajude,
minha voz soou em minha cabeça. Abri o frasco e peguei uma pílula. Coloquei na
boca e ela desceu em seco.
Esperei, esperei, mas nada aconteceu. Senti-me do
mesmo modo. Os mesmo dilemas, a mesma desilusão, mesmo sofrimento. Não mudou
nada. Tomei mais algumas pílulas, e elas não fizeram efeito algum.
Se ajude,
minha voz disse novamente. Mais pílulas. Agora entendi o que eu tentava me
dizer.
Senti meu corpo começar á adormecer. O frasco
inteiro havia ido embora, e estava na hora de eu ir também.
Fechei os olhos
pela última vez. Se ajude! Eu o fiz,
eu me ajudei. Porque ás vezes, o fim é a melhor ajuda. Juliana
CMC.
Assinar:
Postagens (Atom)