quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A Morte


Acho que meu fascínio por esse assunto iniciou-se com a morte de amados conhecidos, amadas partes de minha vida que desapareceram levadas pelo interessante e desafiador humor do Destino: Esse ser, essa criatura misteriosa e desconhecida, que define os caminhos de nossas vidas e os finaliza quando bem entender.
E se nós pudéssemos decidir os nossos caminhos? E se tirássemos o emprego do Destino? E se tomássemos as rédeas do nosso futuro e fizéssemos com que ele provasse do mesmo humor irônico e maldoso com o qual rege as nossas vidas?
Ás vezes falamos que não conhecemos o futuro apenas pra nos auto-enganarmos, pra nos consolarmos, pois sabemos o futuro e ele não é nada agradável, afinal, meu caro, o futuro eminente e permanente é a morte, e só ela. O conhecemos, mas preferimos ignorá-lo, pois viver na ilusão de que não conhecemos e não dominamos os nossos caminhos, nos conforta muito mais do que aceitar a triste verdade: A Morte, o fim de todos esses caminhos percorridos por nós.
Penso que quando chegarmos á uma idade avançada finalmente aceitaremos o nosso futuro, ou talvez não... Talvez ninguém aceite a morte, e nunca aceitará. Ela é desoladora demais para ser compreendida.
Ás vezes acho que a vida não tem significado, afinal ela facilmente se acaba, mas aí eu olho ao redor, e vejo pessoas, pessoas como eu que esperam por sua morte, mas que no intervalo de tempo entre o nascimento e o sepultamento, elas aproveitam o máximo, sentem o máximo de sensações, vivem o máximo que puder. E esse é o significado da vida, viver. Porque morrer é fácil, a dificuldade é viver.
Viver... O que seria viver? Segundo o dicionário viver é ter vida ou existência; existir. Mas será que é isso mesmo? Quer dizer que se eu existo automaticamente eu também vivo? Talvez essa seja uma visão muito superficial de um assunto tão complexo. Talvez seja uma solução, um significado simples demais para algo que pode até mesmo ser considerado inominável.
Afinal existem pessoas que sobrevivem e aquelas que realmente vivem. Mas como podemos julgar se alguém vive ou não? Devemos usar a frívola análise de que se não respira não está vivo? Ou devemos olhar mais profundamente? E se olhássemos, como julgaríamos a vida? Qual seria o parâmetro para descobrir se você realmente vive? Isso se existir tal coisa como um parâmetro....
Muitos dizem que aqueles que vivem são os que deixam marcas pelo mundo, mas e se você não viveu fisicamente o suficiente para fazer alguma marca? Isso significa que toda a sua vida foi em vão? Que o fato de você viver não valeu nada? Talvez seja esse o significa de “existir”... Quando seu corpo esteve ali, você de fato fisicamente existiu, mas não viveu, pois sua existência não foi marcante o suficiente para ser considerada como vida.  
E o que é necessário para ter uma vida marcante? Será que você precisa escrever um livro mundialmente conhecido? Ou virar um músico mundialmente famoso? Enfim, será que você deve produzir algo que fará um impacto mundial?
Mas nem todos são capazes de fazer isso... Então quer dizer que os incapazes também não vivem ou não são dignos do mesmo?
Quem sabe haja outros modos de viver. Perpetuar-se poderia ser um deles, afinal, se você criar descendentes seu nome irá seguir por várias e várias gerações. Mas isso seria o suficiente? Afinal, pouquíssimos são aqueles que lembram seus antepassados.
Então, quais seriam os outros modos? Criar laços com várias pessoas poderia ser uma opção, mas e quando essas pessoas morressem, quem se lembraria de você? E será que elas realmente lembrariam de você se sua morte viesse antes?
Criar laços não é uma opção 100% garantida, assim como reproduzir também não. E agora? Teríamos quais outras opções? Não deixar laços, não deixar frutos, será que isso finalmente é viver? Ou essa é a essência do vazio ato de existir? Talvez essa seja a opção dos fracos, daqueles que não têm coragem o suficiente de procurarem o verdadeiro “viver”. Mas são eles mesmos fracos? Ou afinal são eles os certos? Pois se ninguém sabe como viver, como poderíamos exigir aos outros que se esforçassem para procurar por algo que talvez nem mesmo exista?
Será que o nosso eterno carrasco Destino novamente usou sua ironia para conosco? Será que novamente quis fazer com que achássemos que éramos donos de nossos caminhos, para no fim chegarmos ao ponto que ele havia programado? Se nós não somos os controladores de nossa existência, então o que somos? Marionetes? Marionetes nas mãos do Mestre Destino?
E se cortássemos nossas cordas e nos rebelássemos contra o Mestre? Mas o que garante que essa “revolta” não tenha sido orquestrada por esse mestre que comanda á tudo e á todos? Será então que não vivemos? Apenas existimos baseados na vontade do Destino? Mas há uma coisa que ele não pode orquestrar coisa que ele não pode mudar, pois essa coisa é de responsabilidade de uma autoridade de hierarquia mais alta que a dele: A Morte.
Juliana CMC

"Morte": Um prêmio não desejado


“Não tenho medo de morrer, tenho medo sim é de deixar de viver.”
                                                                       -François Mitterant

Sabe qual a pior coisa que um ser humano pode fazer? Morrer.
Morrer é o ato mais egoísta existente. O fim da vida não é um problema, mas se torna um quando o ser morre, mas sua vida, e por vida eu quero dizer suas memórias, continuam a existir.
Existem dois tipos de morte. A morte física, que é quando seu coração não bombeia mais sangue, quando seu cérebro não tem mais nenhuma atividade e o seu iminente fim é abaixo da terra; E existe a morte em vida, quando seu coração bate e o seu cérebro age, mas pra você, isso não faz nenhuma diferença. Essa é a pior morte, quando mesmo em pé, mesmo respirando, você se sente como se estivesse morto, e o pior, as pessoas se comportam como se você de fato tivesse morrido, como se você não mais neste mundo existisse.
Agora, voltando ao ato egoísta chamado morte, e agora me refiro á morte física... Queria dizer que se você puder fazer uma escolha, não morra. Sério. Tente atrasar isso além do necessário. Já passou por sua cabeça o que aconteceria com as pessoas que te têm em seus corações e em suas vidas quando você morresse? Já pensou como elas se sentiriam? Como seria doloroso olhar para a cadeira que você sempre se sentava e não mais te encontrar lá? Já pensou o que passa na mente daqueles que não te têm mais?
                É como se eles morressem junto com você... É como se a vida deles perdesse a cor e, com o tempo, eles perdessem os motivos de existir, já que você também não mais existia. Isso tudo pela simples e egoísta razão de você não estar mais lá.
                Morrer deveria ser uma escolha. Ou você quer morrer ou não. Não, melhor! Morrer deveria ser dado á aqueles que merecem, deveria ser como um prêmio dado pra aqueles que não fizeram bom uso de um prêmio recebido anteriormente: A vida. Se você não souber apreciar esse primeiro prêmio... Morra! Assim desocupa o espaço daqueles que merecem fazê-lo.  
Aqueles que não têm ninguém, aqueles que não fazem diferença nenhuma na vida de absolutamente ninguém, aqueles com a existência nula... A perda destes não causa sofrimento á ninguém, não há dor direcionada á ninguém, então que morram esses!
Deixe que aqueles que são amados vivam, e que morram os infelizes!  Morram os solitários, morram os isolados, morram os que não são amados, morram todos esses, para que os que são amados por nós voltem...
É só um desejo, mas bem que poderia se tornar real...
 Juliana CMC

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

E viva ao amor...


O dia de hoje estava claro. O sol não sentia nenhuma timidez, por isso decidiu parar no meio do céu em todo o seu esplendor, sem deixar com que nenhuma nuvem se aproximasse para não correr o risco de ser tampado. Os passarinhos estavam animados, pulando de um lado para o outro nas árvores enquanto lançavam por suas pequenas gargantas os gritos esganiçados ou cantos naturalmente afinados. A grama brilhava, restavam-lhe, ainda pequenas gotículas da chuva que molhou todo o parque ontem á noite.
            Sentei em um banco na lateral do parque e olhei para o relógio em meu pulso. 09h15min da manhã. Convocaram-me para um trabalho, mas eu havia chegado adiantado. O trabalho estava marcado para 09h34min.
            Reparei na jovem que estava sentada logo á minha frente. Estávamos tão próximos, que eu quase poderia tocá-la. Lia um livro um tanto quanto grosso. Tinha os cabelos negros e curtos, e os olhos puxados. Pele clara e lisa como porcelana. Era uma asiática.
            -Marcos! – Ela exclamou, pulando do banco e voando nos braços de um jovem loiro. Ele a abraçou e depois ambos sentaram-se no banco. Namorados?
            -Como vai, meu querido amigo? – Ela perguntou, colocando o livro dentro de sua bolsa, e deixando-a de lado.  
            Não, eles eram amigos. Mas os olhares que ambos lançavam entre si não condizia com o verdadeiro relacionamento deles.
            -Eu vou ótimo, linda. – Ele parecia estar realmente bem, nada doente. Então o que seria?
            Ela sorriu. – E o que aconteceu para você me chamar tão cedo?
            Ele virou de frente, agora os dois estavam sentados lado á lado. Marcos estralava seus dedos nervosamente. Podia apostar que um anúncio importante estava por vir. Ele virou novamente para a moça.
            -Você sabe quanto tempo somos amigos, certo?
            -Sim. 12 anos. – Ela disse como se a data fosse lembrada constantemente entre eles.
            -Certo. Então... Você acompanhou todo o meu crescimento como homem. Você me viu virar o que sou agora. Todos os meus antigos amigos acabaram desaparecendo da minha vida, mas você não, você continuou comigo. Você estava comigo quando eu fugi de casa, e prontamente me fez voltar e conversar com meus pais para resolver tudo. Você estava comigo quando minha mãe morreu de câncer. Você estava comigo quando passei no vestibular de Medicina. Você esteve comigo em absolutamente todos os momentos importantes da minha vida. E sabe, a vida é tão curta, devemos aproveitar o tempo que temos. Afinal, eu poderia morrer hoje mesmo. – Sorri de lado quando ele disse isso. – Então, eu devo fazer algo, porque é melhor ariscar do que perder essa chance.
            A moça estava quase chorando com tantas palavras bonitas, mas pode se segurar apenas para murmurar. – O que?
            Ele levantou do banco e parou de frente á ela, tirou uma caixinha de seu bolso e se ajoelhou. Ela arfou.
            -Isabella Akimoto, eu á amo de todo o meu coração. Você quer casar comigo? – Ele abriu a caixinha. E o brilho da pedra do anel pôde ser visto de onde eu estava.
            -Oh Marcos... – A voz de Isabella estava embargada pela emoção. – Eu também o amo demais. Isso foi uma surpresa tão grande. E sim, eu aceito me casar com você.
            Ele sorriu e colocou o anel no dedo dela. Olhei para meu pulso 09h26min. Um movimento rápido fez com que eu olhasse novamente para eles. Um homem de capuz passou correndo pelo banco e pegou a bolsa de Isabella. Marcos levantou sem hesitar e saiu correndo atrás dele. Olha o que temos aqui: Um herói.
            Isabella, recém recuperada do choque, saiu correndo atrás também. Levantei do banco e andei calmamente atrás dos três.
            -Eiii. Volte aqui! – Ouvi Marcos gritar.
            -Pára aí, almofadinha! – O ladrão gritou de volta.
            -Não! – E Marcos continuou á correr. O ladrão enfiou apressadamente a mão na cintura de sua calça e tirou uma pistola dali. Hã hã Marcos, as coisas não vão ficar nada boas.
            Já era tarde para o garoto fazer algo. Ele já estava no chão, escutando o eco do som da bala em seus ouvidos. Isabella finalmente o alcançou e se jogou ajoelhada ao lado dele. O ladrão, por sua vez, continuou correndo, parecendo ser o mais desesperado deles. Aparentava não ter tido a intenção de atirar fatalmente, queria que fosse no braço ou na perna, mas sua mira passou longe de ambos.
            -Marcos! – Isabella gritou entre lágrimas. – Por favor, não vá!
            A bala havia sido no meio do peito e sangue fluía pelo buraco, enchendo a grama de gotículas vermelhas, fazendo com que as transparentes desaparecessem. Da água ao sangue.
            -Calma, meu amor. – Marcos disse quase imperceptivelmente. Sua voz estava fraca, e falar exigia demais dele. – Eu vou morrer tranqüilo tendo a certeza que você me ama.
            Por fim seus olhos fecharam. E o sofrimento terminou. Pelo menos terminou para Marcos, para Isabella tinha apenas começado. Em relação á isso eu não poderia fazer nada.
            Coloquei a mão no bolso do meu casaco e abri o caderninho. Uma longa lista de nomes seguia por todo ele. Aqueles eram apenas os do dia. A lista da semana era bem maior. Olhei em meu relógio pela última vez e confirmei que sempre estivera certo. Marquei na frente do nome de Marcos. Horário de morte: 09h34min.
            O seu espírito levantou de seu corpo e olhou para ele mesmo, com confusão em seu olhar. Tentou chamar a atenção de Isabella de todas as maneiras possíveis, mas para ela, ele não existia mais. Estava na hora de eu me aproximar.
            -Ela não pode te ver Marcos. Ela e todo o resto de pessoas neste parque não podem nos ver. – Disse parando ao seu lado. Ele olhou surpreso pra mim.
            -Porque ninguém consegue nos ver? E quem é você? – Ele perguntou sem parar de olhar para seu próprio corpo estendido no chão.
            Estendi a mão para ele. – Prazer eu sou A Morte. Vamos rápido, sua mãe o aguarda.

                                                                                                                             Juliana CMC



           
  

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Um dia de trabalho

Mais um conto para vocês. Esse um pouco maior do que o último. E de abordagem diferente. Espero que gostem.

Prazer. Chamo-me Marie, tenho 27 anos, trabalho para o FBI e sou uma psicopata.

            Ei, não se assuste, não é como se eu fosse te matar através de uma folha de papel. Na verdade eu não te mataria de modo algum, á não ser que você fosse um criminoso federal e eu não conseguisse prende-lo. De qualquer modo, eu não lhe mataria.
            O problema das pessoas é que elas sempre acham que um psicopata é mau. Mas como poderíamos ser maus, se nem temos sentimentos? Vai ver é por isso que não gostam de nós, porque não temos necessidade de esconder sentimentos, enquanto vocês “normais”, precisam á todo momento conviver com o que sentem.
            -Senhorita Van Der Bor, o Doutor Hanks lhe espera.
            Acenei para a secretária/ recepcionista, levantei-me de meu lugar e fui para a sala do “misterioso” terapeuta.
            -Bom dia, senhorita Marie. – Ele levantou-se e sorriu. Era um senhor com mais de cinqüenta anos, ralos cabelos grisalhos, um terno alinhado e um sorriso açucarado.
            -Bom dia, Doutor. – Fechei a porta atrás de mim, e a tranquei. Conseguindo fazer sem que o doutor percebesse.
            -Como se sente? – Ele se sentou.
            Pergunta interessante. Como eu me sinto? A verdadeira pergunta é se eu sinto algo? E a resposta é não, não sinto nada. Mas...
            -Me sinto bem. – Não queria levantar aquela questão naquele momento, por isso fiz o mais fácil. Menti.
            Eu me encostei no óbvio divã, mas sem me deitar. Seria patético demais e poderia me atrasar em alguma ação de surpresa.
            -Corajoso o bastante para fazer as perguntas? – Arquei uma sobrancelha.
            -Não tenho medo de você, Marie. – Ele disse querendo passar confiança.
            Pois ali estava seu erro, deveria ter sentido o medo antes, assim não seria pego de surpresa.
            -Então, comece á fazê-las.
            -Quando você percebeu que era uma... – Ele próprio se interrompeu. Sorri maliciosamente.
            -Psicopata, doutor. Eu sou uma psicopata. – Eu o completei e o acusei: - Surpreende-me o fato de o senhor, um profissional, se envergonhar de me chamar pelo o que sou.
            -Eu iria completar a minha pergunta. – Ele disse mostrando ligeira irritação. – Se a senhorita tivesse esperado um pouco.
            Dei de ombros. – Sabia que essa coisa de ser “senhorita” é até um pouco interessante?
            Ele não deu muito atenção. Erro após erro.
            -É interessante porque estou com 27 anos e nunca tive um relacionamento sério. Acho que descobrir que a mulher com quem você sai é uma agente do FBI e psicopata não ajuda muito em construir um namoro.
            -Estranho. Já que você é bem bonita. – Reparei que dessa vez ele não disse o habitual “senhorita”. Intimidade forçada, doutor. Mais um erro.
            -Obrigada. – As pessoas sempre me diziam o quão bonita eu sou, rosto delicado, pele dourada, longos cabelos castanhos e olhos esverdeados. O problema era quando eles descobriam sobre a minha saúde mental. A partir daquele momento, a antes mulher bonita, virava uma louca fora do hospício. – Mas por mais estranho que pareça, nem tudo é beleza, doutor. – Fui sarcástica. – Termine sua pergunta.
            Ele acenou.
            -Quando você percebeu que era uma psicopata? – Ele finalmente pronunciou o nome certo. Depois cruzou as pernas e pegou o seu bloquinho de papel.
            -Penso que foi no momento em que meu colega no jardim de infância caiu dos brinquedos do parquinho e quebrou o pescoço.
            Ele demonstrou surpresa, mas logo a escondeu.
            -O que você fez perante isso?
            -Desci do escorregador, circulei seu corpo sem vida e fui atrás da professora. Chegando lá, disse á ela que o garoto havia morrido. Ela se desesperou e foi conferir com seus próprios olhos. Comportei-me normalmente, olhando os paramédicos pegarem o corpo do garoto, depois saí do parquinho e voltei para dentro da sala de aula, queria ficar ali, pois não tinha nada mesmo para fazer, mas a escola foi fechada por 2 dias, e eu acabei ficando em casa.
            -E como as pessoas reagiram á esse seu curioso comportamento?
            -As pessoas pensavam que eu estava em estado de choque, mas o estado de choque nunca passou, de fato continua até hoje.
            Ele escreveu algo em seu bloco de papel. Aposto que eram apenas rabiscos.
            -Você visitou outros terapeutas, durante sua vida? – Ele perguntou ainda olhando para os rabiscos.
            -Bem, isso é óbvio, já que eu sou uma psicopata diagnosticada. Vi caras como você durante toda a minha vida. – E isso não era nem um pouco mentira. Já fui em tantos psicólogos, que já poderia atender outras pessoas. O difícil seria encontrar alguém que confiasse em mim para diagnosticá-lo.
            -Interessante. Mais uma pergunta: Como foi sua adolescência?
            -Meus pais optaram por eu estudar em casa, então não foi grande coisa.
            -E como você começou a trabalhar no FBI?
            -Foi fácil conseguir um emprego se uma das exigências era de eu ser a pessoa mais imparcial em julgamentos. Já que não posso me emocionar, nem se eu vê-lo morrendo aqui, agora na minha frente, eu acabei conseguindo o emprego.– Disse de brincadeira, mas o meu tom pareceu não ter sido, porque ele me lançou um olhar assustado. – Demos um jeito, e eu burlei o teste psicológico. E eu também sou boa em atirar. É meu dom. Isso tudo facilitou na questão da construção de minha carreira como agente.
            -Está em algum trabalho por agora?
-De fato, estou.
-Gostaria de falar sobre ele, ou é confidencial?
-Não se preocupe, de qualquer modo você irá saber. – Joguei a isca, e ele pareceu mordê-la, mas depois á soltou. O ser humano é tão arrogante, ele de certo estava pensando que ninguém teria conseguido rastreá-lo, por isso estava tão tranqüilo. Pois devia preocupar-se mais, já que eu já estava aqui pronta para trabalhar.
-Então. Houve um cara texano que esquartejou sua mulher, e que estuprou todas as 4 filhas que havia com ela, além de um menino de 10 anos que também era seu filho. Logo depois de tudo isso, matou todos e os enterrou em linha reta, ligando a sua casa á uma encruzilhada, tudo isso com os corpos de seus familiares. Era algum tipo de ritual satânico, que aparentemente não funcionou. Depois fugiu e agora estamos em sua cola, quase conseguindo encontrá-lo. – Louis Hanks engoliu em seco. – E aí Louis, como você conseguiu perder o sotaque sulista tão rápido e ainda um diploma de psicologia?
A última pergunta foi o que o fez finalmente movimentar-se. Ele colocou a mão na cintura da calça.
-Tarde demais, assassino! – Eu disse, já com a minha arma apontando para a cabeça dele. Tinha ido com uma camiseta ligeiramente folgada para não mostrar o que eu escondia em minha cintura.
Ele continuou com a mão ali.
-Abaixe a mão, senão eu atiro! – Gritei de novo. Idiota arrogante. Errou aceitando atender um agente do FBI, errou em se mostrar novato, errou em matar toda a sua família. A mãe dele errou por tê-lo feito nascer. 
-Vamos ver se você é mesmo uma psicopata. – Movimentou-se, tentando puxar a arma. Mas eu agi mais rápida e atirei em sua mão.
-Sou uma psicopata diagnosticada, você é apenas um cara idiota que estragou a sua vida e de seis pessoas.
Ele se ajoelhou e inclinou-se sobre sua mão. Sangue escorria enquanto ele choramingava. Olhei para algo ao lado dele que chamou a minha atenção. Tinha-o feito perder um dedo e foi bem o do meio.
-Sua piranha! – Gritou, lançando um olhar cheio de ódio em minha direção.
-Grande reviravolta, não? – Disse ignorando seu xingamento e me aproximando dele. – Você achando que tinha se safado, e que estava apenas atendendo uma louca hoje. – Puxei a manga de minha blusa para minhas mãos e peguei seu dedo do chão. Estendi á ele. –Acho que isso é seu.
Ele pegou o dedo com a outra mão e começou a choramingar novamente.
-O que foi, amigo? Está doendo? Imagina a dor de sua mulher quando não perdeu apenas um dedo... – Abaixei meu rosto bem próximo do seu envelhecido. – Mas sim todas as partes, que foram separadas.
Ele não disse nada, apenas cuspiu em minha cara. Limpei o rosto com a manga da blusa e apontei a arma para sua outra mão. Mais um tiro, menos um dedo.
            Levantei de minha posição ajoelhada e peguei o celular. Ignorei os choros altos e gritos ocos de Louis. Já havia algum tempo que a recepcionista estava tentando entrar no cômodo, de certo já havia ligado para a polícia. Mas a minha hierarquia era bem mais alta que a da desses oficiais de interior, então nem me preocupei.
            Disquei o número e ouvi apenas um toque.
            -Agente Snider.
            -Snider, pode entrar. Já estou com ele... Abatido. – Loius continuava a gritar.
            -O que você fez com ele, Marie? Porque tantos gritos? – Snider perguntou normalmente, como se eu fizesse aquele tipo de coisa á todo momento. Ele não estava exatamente errado.
            -Nada demais, ele que quis atirar em mim primeiro. Venha e leve-o.
            Desliguei o telefone e olhei para Louis Hanks que havia se calado. Ele desmaiou e finalmente ficou quieto. Para alguém envolvido em satanismo e assassinato, tinha o psicológico muito fraco. Ainda bem que eu nem tinha algo desse tipo.
            Dei-lhe as costas e destranquei a porta. A secretária entrou correndo, enquanto eu saia. Mais um dia de trabalho, menos um monstro solto no mundo. Mas será que é certo um monstro ser pego por outro monstro?
                                                                                                                                             Juliana CMC.


terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Introdução


Olá leitores. Esse é meu post de introdução e vim aqui apenas apresentar-me á vocês. Meu nome é Juliana, tenho 16 anos e se quiserem saber algo mais, vão em meu perfil. Fiz esse blog para colocar meus textos e contos, espero que aqueles que os lerem gostem. Aí abaixo já segue um texto meu. Aproveitem
Abraço.

Ser ou não ser?


Loucura. Havia sido diagnosticada como uma pessoa com distúrbios mentais. Mundialmente conhecido como loucura.
Olhei para o remédio tarja preta que estava em minhas mãos. Ficara sentada no sofá, naquela mesma posição, já fazia muito tempo, sempre olhando para o frasco. Deveria tomar seu conteúdo? E se tomasse, realmente ajudaria?
Senti minhas pálpebras pesadas. Estava cansada. Deitei no sofá e repousei a cabeça em uma macia almofada. Decidiria a questão do remédio logo após acordar.
Suaves gargalhadas fizeram com que eu abrisse os olhos novamente. Senti fracas cutucadas em meu braço. Olhei para o lado e analisei o rosto de uma garotinha loira de uns 10 anos.
-Quem é você? – Perguntei, ainda meio sonolenta.
-Não se lembra de mim, Emmy? Eu sou você. – Ela anunciou, passando a mão na lateral do meu rosto.
Alarguei os olhos e sentei no sofá em um pulo. É verdade, a garotinha era eu. Mas isso há muito tempo atrás, há mais de 20 anos na verdade.
-O que faz aqui? – Perguntei normalmente. Pois por mais que parecesse estranho agora, não parecia antes. Pelo menos não naquela hora.
-Você me chamou. – Ela se sentou do meu lado. E ficou mexendo na barra de seu vestido, como eu fazia.
-Eu? Não me lembro de ter te chamado.
-Claro que chamou. – Ela me olhou como se eu estivesse louca. – Foi um grito desesperado. Me deu até medo. Parecia que você precisava de ajuda.
-Ajuda... – Repeti baixinho. – Como você pode me ajudar?
-Não sei. Talvez eu possa pedir por reforços.
-Reforços?
-Sim. – Ela disse impaciente. – Feche os olhos e espere um pouco.
Fiz o que ela disse.
-Emily. – A voz familiar fez com que eu abrisse meus olhos novamente. A garotinha delicada havia sumido, o lugar dela foi tomado por uma adolescente vestida de preto, e com a cara fechada.
-Você também sou eu? – Perguntei, olhando para os olhos azuis da garota. O cabelo loiro havia sido tingido de preto. Desci meu olhar para seus braços, seus pulsos estavam todos marcados, arranhados, feridos.
-Sim. Feliz em me ver? – Ela sorriu sarcasticamente.
-Acho que sim. – Respondi confusa, ainda olhando para os machucados – Porque você fez isso?
Ela olhou para os próprios pulsos.
-Não fui eu que fiz. Foi você. – Apontou para mim.
-Porque eu fiz isso?
-Seu pai, a pessoa que você mais amava no mundo, se matou. Na sua frente. – A garota disse friamente.
-Porque ele fez isso?
-Ele não sabia que você estava vendo. Ele descobriu que sua mãe o traia, e acabou se matando em um ato de covardia e desespero. – Ela ergueu os pulsos em frente ao meu rosto. – Agora deve estar se sentindo culpado pelo o que fez. Olha o que ele fez você fazer. Você se machucou. Você sofreu, e tudo por culpa dele.
Meu nariz começou a arder, e uma lágrima desceu por meu rosto. Eu me lembrava disso.
-Você vai me ajudar? – Perguntei secando a lágrima com o dedo.
Ela olhou para baixo. – Não posso. Estou perdida demais para ajudar qualquer um. Feche os olhos. Talvez alguém melhor venha.
Fechei novamente os olhos e esperei até ser chamada. Passaram-se alguns minutos e ninguém me chamou. Finalmente decidi por abri-los.
Uma mulher jovem que devia ter uns 20 e poucos anos, estava sentada no mesmo lugar da adolescente. Ela usava um terno e lia um livro grosso. Seu cabelo agora estava loiro novamente.
-Porque não me chamou? – Perguntei ofendida.
-Quem precisa de minha ajuda é você. – Ela declarou desdenhosamente.
-Você também sou eu?
Ela fechou o livro e lançou o olhar frio para mim.
-Está explicito que sim.
Tentei olhar para seus pulsos, mas a manga de seu paletó não deixou.
-Quer conferir se as marcas ainda estão aqui? – Ela levantou a manga. – Alguns cortes foram tão profundos, que deixaram cicatrizes permanentes.
Olhei para as marcas. Agora estavam bem mais claras que antes, mas mesmo assim ainda estavam ali.
-Você parou de fazer isso?
Ela olhou para mim novamente com um ar de desdém. – Claro que sim. Isso não ajudava em nada. Percebi que guardar as coisas para mim resolveria melhor do que pegar uma gilete e brincar de barbeiro em meu pulso.
-Que bom, então.
-Na verdade não. Guardar machuca mais do que isso. – Vi algo no fundo de seu olhar. Era emoção, parecia tristeza.
-Sinto muito.
-Não sinta. Você que fez isso.
-Eu? – Perguntei surpresa.
-Você que guardou tudo. Você que se cortou, que se fechou, que se quebrou. Agora está pagando por isso.
Senti-me mal pelo o que ela disse.
-Você vai me ajudar? – Tinha que ser ela. A moça parecia ser a mais segura, deveria saber como me ajudar.
-Não tenho tempo para isso. Vamos esperar pela próxima, talvez ela possa finalmente te ajudar. – Ela olhou sugestivamente para mim. – Pensei que já tinha entendido que essa é a deixa para fechar os olhos.
Os fechei e esperei.
-Emily. – Uma voz tremida me chamou, abri os olhos e me vi sentada ao meu lado.
Olhei para seu corpo e para o meu. Estávamos com as mesmas roupas. Seu cabelo estava despenteado, e seu olhar tinha um brilho estranho, assustador.
-Você quer minha ajuda? – Ela perguntou, passando a mão em seus cabelos.
-Você pode me ajudar?
-Você pode se ajudar? – Ela soltou o cabelo e segurou minhas mãos.
-Acho que não. É por isso que você está aqui, não é? Para me ajudar, pois eu não consigo fazer sozinha.
-Tem certeza que não consegue sozinha? – Ela soltou uma mão minha, e colocou a sua no bolso da calça de moletom que usava. – Pense, Emily, todas as pessoas que tiveram aqui são você. Eu sou você.
Ela tirou do bolso o frasco de remédio e o estendeu para mim.
-Aqui, minha querida, se ajude.
Peguei o frasco com as mãos tremulas.
-Agora feche os olhos.
Fechei-os mais uma vez, e um tempo depois os abri novamente. Encontrava-me deitada no sofá, com o frasco em minha mão.
Se ajude, minha voz soou em minha cabeça. Abri o frasco e peguei uma pílula. Coloquei na boca e ela desceu em seco.
Esperei, esperei, mas nada aconteceu. Senti-me do mesmo modo. Os mesmo dilemas, a mesma desilusão, mesmo sofrimento. Não mudou nada. Tomei mais algumas pílulas, e elas não fizeram efeito algum.
Se ajude, minha voz disse novamente. Mais pílulas. Agora entendi o que eu tentava me dizer.
Senti meu corpo começar á adormecer. O frasco inteiro havia ido embora, e estava na hora de eu ir também.
                Fechei os olhos pela última vez. Se ajude! Eu o fiz, eu me ajudei. Porque ás vezes, o fim é a melhor ajuda.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                               Juliana CMC.