quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

E viva ao amor...


O dia de hoje estava claro. O sol não sentia nenhuma timidez, por isso decidiu parar no meio do céu em todo o seu esplendor, sem deixar com que nenhuma nuvem se aproximasse para não correr o risco de ser tampado. Os passarinhos estavam animados, pulando de um lado para o outro nas árvores enquanto lançavam por suas pequenas gargantas os gritos esganiçados ou cantos naturalmente afinados. A grama brilhava, restavam-lhe, ainda pequenas gotículas da chuva que molhou todo o parque ontem á noite.
            Sentei em um banco na lateral do parque e olhei para o relógio em meu pulso. 09h15min da manhã. Convocaram-me para um trabalho, mas eu havia chegado adiantado. O trabalho estava marcado para 09h34min.
            Reparei na jovem que estava sentada logo á minha frente. Estávamos tão próximos, que eu quase poderia tocá-la. Lia um livro um tanto quanto grosso. Tinha os cabelos negros e curtos, e os olhos puxados. Pele clara e lisa como porcelana. Era uma asiática.
            -Marcos! – Ela exclamou, pulando do banco e voando nos braços de um jovem loiro. Ele a abraçou e depois ambos sentaram-se no banco. Namorados?
            -Como vai, meu querido amigo? – Ela perguntou, colocando o livro dentro de sua bolsa, e deixando-a de lado.  
            Não, eles eram amigos. Mas os olhares que ambos lançavam entre si não condizia com o verdadeiro relacionamento deles.
            -Eu vou ótimo, linda. – Ele parecia estar realmente bem, nada doente. Então o que seria?
            Ela sorriu. – E o que aconteceu para você me chamar tão cedo?
            Ele virou de frente, agora os dois estavam sentados lado á lado. Marcos estralava seus dedos nervosamente. Podia apostar que um anúncio importante estava por vir. Ele virou novamente para a moça.
            -Você sabe quanto tempo somos amigos, certo?
            -Sim. 12 anos. – Ela disse como se a data fosse lembrada constantemente entre eles.
            -Certo. Então... Você acompanhou todo o meu crescimento como homem. Você me viu virar o que sou agora. Todos os meus antigos amigos acabaram desaparecendo da minha vida, mas você não, você continuou comigo. Você estava comigo quando eu fugi de casa, e prontamente me fez voltar e conversar com meus pais para resolver tudo. Você estava comigo quando minha mãe morreu de câncer. Você estava comigo quando passei no vestibular de Medicina. Você esteve comigo em absolutamente todos os momentos importantes da minha vida. E sabe, a vida é tão curta, devemos aproveitar o tempo que temos. Afinal, eu poderia morrer hoje mesmo. – Sorri de lado quando ele disse isso. – Então, eu devo fazer algo, porque é melhor ariscar do que perder essa chance.
            A moça estava quase chorando com tantas palavras bonitas, mas pode se segurar apenas para murmurar. – O que?
            Ele levantou do banco e parou de frente á ela, tirou uma caixinha de seu bolso e se ajoelhou. Ela arfou.
            -Isabella Akimoto, eu á amo de todo o meu coração. Você quer casar comigo? – Ele abriu a caixinha. E o brilho da pedra do anel pôde ser visto de onde eu estava.
            -Oh Marcos... – A voz de Isabella estava embargada pela emoção. – Eu também o amo demais. Isso foi uma surpresa tão grande. E sim, eu aceito me casar com você.
            Ele sorriu e colocou o anel no dedo dela. Olhei para meu pulso 09h26min. Um movimento rápido fez com que eu olhasse novamente para eles. Um homem de capuz passou correndo pelo banco e pegou a bolsa de Isabella. Marcos levantou sem hesitar e saiu correndo atrás dele. Olha o que temos aqui: Um herói.
            Isabella, recém recuperada do choque, saiu correndo atrás também. Levantei do banco e andei calmamente atrás dos três.
            -Eiii. Volte aqui! – Ouvi Marcos gritar.
            -Pára aí, almofadinha! – O ladrão gritou de volta.
            -Não! – E Marcos continuou á correr. O ladrão enfiou apressadamente a mão na cintura de sua calça e tirou uma pistola dali. Hã hã Marcos, as coisas não vão ficar nada boas.
            Já era tarde para o garoto fazer algo. Ele já estava no chão, escutando o eco do som da bala em seus ouvidos. Isabella finalmente o alcançou e se jogou ajoelhada ao lado dele. O ladrão, por sua vez, continuou correndo, parecendo ser o mais desesperado deles. Aparentava não ter tido a intenção de atirar fatalmente, queria que fosse no braço ou na perna, mas sua mira passou longe de ambos.
            -Marcos! – Isabella gritou entre lágrimas. – Por favor, não vá!
            A bala havia sido no meio do peito e sangue fluía pelo buraco, enchendo a grama de gotículas vermelhas, fazendo com que as transparentes desaparecessem. Da água ao sangue.
            -Calma, meu amor. – Marcos disse quase imperceptivelmente. Sua voz estava fraca, e falar exigia demais dele. – Eu vou morrer tranqüilo tendo a certeza que você me ama.
            Por fim seus olhos fecharam. E o sofrimento terminou. Pelo menos terminou para Marcos, para Isabella tinha apenas começado. Em relação á isso eu não poderia fazer nada.
            Coloquei a mão no bolso do meu casaco e abri o caderninho. Uma longa lista de nomes seguia por todo ele. Aqueles eram apenas os do dia. A lista da semana era bem maior. Olhei em meu relógio pela última vez e confirmei que sempre estivera certo. Marquei na frente do nome de Marcos. Horário de morte: 09h34min.
            O seu espírito levantou de seu corpo e olhou para ele mesmo, com confusão em seu olhar. Tentou chamar a atenção de Isabella de todas as maneiras possíveis, mas para ela, ele não existia mais. Estava na hora de eu me aproximar.
            -Ela não pode te ver Marcos. Ela e todo o resto de pessoas neste parque não podem nos ver. – Disse parando ao seu lado. Ele olhou surpreso pra mim.
            -Porque ninguém consegue nos ver? E quem é você? – Ele perguntou sem parar de olhar para seu próprio corpo estendido no chão.
            Estendi a mão para ele. – Prazer eu sou A Morte. Vamos rápido, sua mãe o aguarda.

                                                                                                                             Juliana CMC



           
  

3 comentários:

  1. Vejo que gosta muito de historias, das quais retratam o sofrimento e por hora a morte. Ela é tão sedutora... Adorei!

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  2. Que... FODA!!! (sorry pelo palavrão, mas não me contive, hahaha!!!) O__O" nossa, que conto nota 10, mesmo. Eu mó achando que era uma menina observando o casal e tal, que iria ver os dois saindo do lugar noivos e felizes para sempre, ai páá, bye pro meu xará e a menina era a morte! o.o' mega amei, e olha, já sou seu fã! :D

    seguindo o blog aqui, e agradeço a visita no meu blog tb.

    Beeijos! ;***

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